domingo, 3 de outubro de 2010

Infância




PERSONAGENS
Dois garis

GARI 1 – Uau! Carnaval em São Paulo só é uma maravilha! Me faz relembrar minha infância... Carnaval?
GARI 2 – Bom, na sua infância fazia tão calor?! Estou derretendo!
GARI 1 – Hum, nem tanto. Mas era bom, muito bom. Lembro do gosto agridoce do pastel de tapioca, dos carnavais que passava com minha família, todos fantasiados...
GARI 2 – Sua infância deve ter sido o paraíso!
GAR 1 – Não totalmente, quero dizer, quando era menino vi um carro parado sangrando um laranja ácido e desde então neguei este destino.
GARI 2 – Que destino? Ser gari?
GAR 1 – Não, na verdade, crescer. Cresci e saí pelo mundo, e descobri que cada modo de vida é para um vivente. Gosto da minha vida, gosto dessa cidade, assim no finzinho de tarde, desse carnaval... 
GARI 2 – Posso, em certo ponto, concordar. Crescer é um período difícil. Porém, é um estado de contentamento. Sou feliz, pois aprendi a rir com o espelho, enquanto via no retrovisor homens enforcados em gravatas de seda. Esses homens não souberam crescer.
GARI 1 – É, agora estamos crescidos, e nesse carnaval nossa fantasia é nossa pá e nosso lixo. Nossa fantasia é do trabalho do nosso sustento. Coisa de homens crescidos.
GARI 2 – Ish! São 19h30! Hora de voltar ao trabalho! Temos muita coisa pra limpar!
GARI 1 – Voltar ao trabalho? Viver é um trabalho! Vamos viver!

(Texto escrito por Camila)

(Proposta: diálogo entre dois garis, com no máximo 12 réplicas, utilizando impressões levantadas na apreciação da tela "Composição X" de Kandinsky. Deveriam também ser utilizadas frases de um dos retratos escritos – que estão sublinhadas neste texto.)

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