O Balão de Coração Borrado
No crepúsculo da última noite de carnaval.
Quando tudo havia acabado não havia nem sequer uma pessoa na rua, apenas os lixos deixados, e o vento procurando algo para fazer companhia a ele.
Nessa noite lá estava um homem, não um homem comum, mas sim um artista - mas não um artista qualquer, era um artista de Petrópolis chamado Pedro e tinha 55 anos - conhecido por suas artes comuns e que, por serem comuns, não vendiam muito.
Nessa noite Pedro estava fazendo mais um quadro, sobre o carnaval, mas cansado já havia trabalhado muito nesse quadro, ele foi buscar um chocolate quente.
Nesse meio tempo, uma gota de água caiu na pintura, que era magnífica, colorida, mas era uma pintura comum, essa gota de água caiu e desbotou a pintura.
Pedro volta e se depara com seu trabalho “arruinado” e começa a se lamentar.
Enquanto Pedro lamenta o quadro, vamos dizer que ele fala.
QUADRO - O velhote está se lamentando por quê? Eu estou aqui, magnífico!
PEDRO - Magnífico como? você virou um borrão... Péra, você fala?
QUADRO - Isso não vem ao caso, vamos falar sobre o seu talento.
PEDRO - O que tem ele?
QUADRO - O que tem é que ele é uma merda só!
PEDRO - Você foi criado por mim e ainda diz isso? Buaaaaaaaaaaaa!
QUADRO - É verdade, fui criado por você e por isso que só não te bato, por que só sei falar, não tenho pernas pra andar e braços pra socar sua cara lamentável.
PEDRO - Então vamos.
QUADRO - Vamos aonde?
PEDRO - Para o lixo.
QUADRO - Como, para o lixo?
PEDRO - Você está arruinado!
QUADRO - Quem está arruinado são seus olhos de velho, as artes que você faz são comuns, não dá uma dúvida para as pessoas, elas não se questionam. É por isso que suas obras estão falidas, você não dá um tempero, uma coisa surreal para questioná-las. Você dá a prova com as respostas a elas.
Pedro com a cara de quem está levando uma moral da própria obra admite a verdade.
PEDRO - Mas o que eu posso fazer? Você está borrado.
QUADRO – Não. As cores se misturaram e viraram algo novo. Só basta você querer.
Às vezes posso ser um furioso leão e às vezes posso me tornar um belo e meigo passarinho. Às vezes posso ser uma linda flor e às vezes só espinho. Posso alimentar o mundo de sonhos, esperanças e fantasia. Todo o mundo me procurara mais ninguém me achará. Respeitarei as lágrimas mas também as risadas ao me olhararem. Olhe bem pra mim. O que me pareço?
Pedro se vira lentamente. Parece estar emocionado e se deita em sua cama.
QUADRO – Ei! Aonde você vai? O que você irá fazer comigo?
Pedro se deita e apaga a vela. Fica sozinho na escuridão. Só a claridade da lua é suficiente para iluminar o quarto onde ele estava. Pedro parecia emocionado e haver captado o recado de sua obra. Que arte não é matemática. Que só há uma resposta. Arte: a soma de varias respostas.
Boa noite, Pedro diz ao Quadro.
Na manhã seguinte, Pedro se levanta e vê que tudo aquilo foi apenas um sonho, mas ele vai até a tela em branco e percebe que aquele sonho foi um aviso.
Pedro desenha um balão vermelho de carnaval. Mas o vermelho era tão intenso que chegava a ser escarlate. Quando o quadro estava quase pronto, Pedro joga um copinho de café cheio de água e o balão vermelho de carnaval vira um imenso borrão.
Pedro ri e sai para entregar o quadro à galeria. Passa um semestre e o nome dele sai como o mais novo famoso artista de arte abstrata do Brasil.
Com sua primeira obra o quadro...
Se você deseja saber o nome do quadro, leia as palavras em destaque que há no começo do texto.
(Proposta: diálogo entre um pintor e seu retratado, utilizando impressões levantadas na apreciação da tela "Composição X" de Kandinsky. Deveriam também ser utilizadas frases de seus retratos escritos - sublinhadas no texto acima. A ilustração da postagem foi escolhida pelo autor)