(Tela de Marc Chagall)
Em uma cidadezinha rodeada de casinhas antigas, com pessoas humildes e alegres, e cercada unicamente por uma mística floresta, moravam três garotos. Eram três amigos: Roco, Riobaldo e Renê. Tinham em suas vidas algo que os unia: o amor eterno pela arte musical. Roco tocava banjo, Riobaldo, bandolim e Renê, violão. Não gostavam de esconder seu talento. Toda tarde se reuniam e tocavam na praça da cidade. Nunca se interessaram em ganhar dinheiro, tudo o que produziam era feito com amor. Era lindo de se ver e de se ouvir. Quando tocavam algo mágico acontecia... notas musicais multicoloridas saiam de seus instrumentos. Elas dançavam e faziam do céu o seu salão nobre. Dançavam tão alto que tocavam as estrelas.
Longe dali, em seu castelo escuro, se escondia um malvado feiticeiro. Ele odiava escutar a música dos três amigos. Era invejoso, pois tinha os dedos tortos e não conseguia tocar nada. Um certo dia, se irritou e decidiu acabar com a música dos jovens. Enquanto eles se apresentavam, o feiticeiro jogou um terrível feitiço em seus instrumentos:
_ De agora em diante a música de vocês trará tristeza e desgosto para todos!
Renê, Roco e Riobaldo não sabiam mais o que fazer, pois a única coisa que os fazia viver não traria mais a alegria de sempre.
_ E agora, Renê, o que faremos? - disse Roco.
_ Eu não sei, meu amigo... - disse Renê desapontado.
_ Só nos resta ir embora da cidade e nunca mais voltar – disse Riobaldo.
Sem escolha, os três músicos fugiram para a floresta. Ela era escura e misteriosa. Quando a noite chegou, os três já estavam cansados de tanto andar sem rumo. Avistaram um pequeno acampamento, com uma fogueira e pessoas dançando e cantando.
_ Olhem, meus amigos – disse Renê. Aquele povo se diverte com sua música.
_ Vamos até lá! - exclamou Riobaldo.
_ É, vamos! - concordaram os amigos.
Chegaram devagar e ficaram observando. Um dos homens que ali estavam notou a curiosidade dos três músicos.
_ Ei, vocês três! Não fiquem acanhados. Participem da nossa festa.
_ Podemos? - perguntaram os três.
_ É claro! Vamos, vou apresentar vocês ao meu grupo.
E lá foram os três músicos ao encontro do homem e seu grupo dançante. Sentaram à frente da fogueira.
_ Que tipo de grupo são vocês? - perguntou Roco.
O homem sorriu e disse:
_ Somos ciganos! Passamos a vida cantando e dançando e lendo sobre o futuro das pessoas.
_ Então por que não lê sobre o nosso futuro? - perguntou Renê.
_ Mas é claro! - E pegando a mão de Renê analisou. - você possui um tesouro. Não são joias, mas é brilhante. Lute por esse tesouro. Em sua maldição irá encontrar a libertação. Terá de infringir a regra que o seu mal lhe impôs.
O cigano logo notou os instrumentos musicais dos três amigos.
_ Por que vocês não tocam junto conosco?
_ Não podemos... - disse Renê desapontado.
_ Ora, mas por que não? - perguntou o cigano
_ Fomos amaldiçoados por um feiticeiro. Agora, cada vez que tocarmos só traremos coisas tristes para as pessoas.
Despediram-se do cigano e seguiram pela floresta.
_ Sim! Agora entendo! - disse Renê alegre.
_ Entende o que, meu amigo? - perguntou Roco.
_ O cigano da floresta está certo!
_ O que? Está louco? - perguntou Riobaldo, confuso.
_ Não, meus amigos. Não prestaram atenção no que ele disse quando leu minha mão? 'Em sua maldição encontrará libertação.” Roco, Baldo, temos de voltar para a cidade e tocar.
_ Ah, meu Deus! Agora você endoideceu de vez, Reenê – disse Riobaldo, indignado. Será que não percebe? Estamos amaldiçoados, não há como reverter esse feitiço.
_ É verdade, Renê, o Baldo tem razão – concordou Roco.
_ Temos de acreditar em nosso poder, meus irmãos! Temos de lutar! - exclamou Renê.
_ Acordar, Renê! Acabou! Não somos e nunca mais seremos os três músicos mágico – disse Roco.
Nesse instante o cigano da floresta surgiu entre as arvores e disse:
_ Pois vou lhes contar uma coisa, meus jovens. A música só trará o mal se desejarmos que ela traga o mal. Quando uma melodia sai de nosso alma, deixamos o coração libertar nossos mais belos sentimentos.
As palavras do cigano encorajaram os três músicos. Então, naquela noite voltaram para a cidade e começaram a tocar, e viram como as cordas dos instrumentos brilhavam como ouro e as lindas notas coloridas voltaram com ainda mais cor e luz, animando o povo como sempre animara em todas as noites.
O feiticeiro ficou com tanta raiva que acabou explodindo. Virou poeira e foi levado para sempre pelos ventos.
(Esta é a história de fantasia escrita pelo Lucas R. Rey, baseada na tela Os três músicos de Beatriz Milhazes. Esta é a segunda versão.
A ilustração da postagem remete a outro artista também capaz de inspirar textos dessa natureza)
A ilustração da postagem remete a outro artista também capaz de inspirar textos dessa natureza)
A história criada pelo Lucas contém muitos elementos que podem ser encontrados nas histórias fantásticas.
ResponderExcluirPodemos começar pela floresta misteriosa que cerca a cidadezinha. Ela, de certa forma, protege a comunidade, porém guarda surpresas, perigos ou revelações. Nenhum herói sai da floresta do mesmo modo que entrou, já repararam?
Um outro elemento presente nas fantasias é o vilão, no caso dessa história, o feiticeiro. Feitiços e magias são ingredientes que funcionam nesse tipo de narrativa. E também a busca de um modo de se livrar deles, fugindo ou encontrando um antídoto.
Personagens que surgem de modo imprevisto podem ser encontrados com facilidade em narrativas maravilhosas. Alguém que prevê o futuro também. Os ciganos, aqui, cumprem as duas funções e ajudam os três músicos a encontrar o próprio caminho e a salvação.
Haveria bem ais coisas a comentar, mas vou deixar que o leitor identifique por si mesmo outros ingredientes que compõem uma história de fantasia.
"Tal professora, tais alunos"... Vê-se, por aqui o quanto uma professora credenciada para tal função pode fazer "render" a criatividade da moçada! Parabéns (à prof. Adélia e aos que topam desafios e criam).
ResponderExcluirdalila teles veras