terça-feira, 30 de novembro de 2010

Os três músicos - de Isabella


(Pablo Picasso, Os três músicos, 1921)


Era uma vez um campo pequeno, muito longe da cidade, chamado o Campinho das Maravilhas. Nessa cidade as casas tinham formato de bolinhas com creme em cima, era cheia de rosas de todas as cores e cheirava muito forte. E era uma cidade muito alegre.
Nessa cidade havia três garotos, Samuel, Pedro, Júlio, que eram muito arteiros e ninguém botava fé que eles seriam alguém na vida. Mas eles tinham um grande sonho: serem três músicos, Pedro tocava guitarra, Samuel cantava e Júlio tocava bateria.
A mãe desses meninos falava para eles que não iriam ser músicos, que não iriam conseguir. Mas eles, mesmo sendo arteiros, corriam atrás do seu sonho, mas sempre recebiam NÃO. Eles foram crescendo, crescendo e foram desistindo de seus sonhos.

Um dia de manhã chegou um trailer com umas pessoas estranhas e a cidade toda saiu às ruas para ver o que era aquilo. Todos acharam estranho porque saíram do trailer umas mulheres vestidas de vermelho, vestidos rodados e gritando alto, dizendo:
_ Somos ciganas. Nós lemos mãos...
A cigana viu um dos três irmãos. Ela apenas pegou a mão do jovem rapaz e disse:
_ Você não pode desistir do seu sonho de ser músico. Corra atrás, viaje por esse mundo. Você vai conseguir.
O rapaz só olhou para a cigana e ficou parado feito uma estátua.
Ela pegou a mão dos dois irmãos que sobraram e disse a mesma coisa que disse para o outro. Eles ficaram olhando e parados por dois minutos, e acigana, olhando para eles, gritou:
_ VOCES VÃO FICAR PARADOS FEITO TRÊS ESTÁTUAS? ANDEM, O TEMPO VOA, VÃO!!!
Os meninos pularam de susto e saíram correndo para a casa deles. Foram arrumar a mala com muita pressa. A mãe dos meninos chorava, chorava pedindo para eles não irem embora. Ela estava com medo porque eles nunca saíram para outro lugar. Eles, sem escutar a mãe, saíram de casa pegando um carrinho velho, sem dar tchau para mãe.
A cigana, olhando gritou:
_ Vão, meninos. Seu sonho só está começando!

Júlio, dirigindo, comentou com os irmãos:
_ Para onde nós vamos? Que cidade?
Samuel disse:
_ Vamos para a cidade mais próxima daqui. Vamos ganhar dinheiro e depois conversamos melhor.
Muito alegres, aproveitaram e começaram a ensaiar.
Chegando na cidade, muito movimentada e grande, eles foram procurar um hotel para passar alguns dias. Procurando, procurando acharam o hotel mais barato que havia. Era velho e feio. Pediram um quarto para os três. Se acomodaram e Pedro disse:
_ Vamos descansar. Nós estamos cansados da viagem. Amanhã procuramos emprego.

Cansados, foram dormir. No dia seguinte Samuel levantou às cinco horas da amanhã, pediu o café e gritou:
_ Levantem! Já tá na hora! Temos que procurar emprego!
Os dois levantaram assustados. Foram tomar café e se arrumar para procurar trabalho.
Procuraram muito, até encontrarem um bar. Era bem movimentado e grande. Funcionava o dia todo e poderiam comer de graça. Mas teriam de tocar à noite e ganhariam bem pouco em cada apresentação. Poderiam começar naquele dia mesmo.
Voltaram para o hotel muito animados e alegres. Samuel, que era muito vaidoso disse:
_ Vamos comprar algumas roupas para a apresentação desta noite.
_ Cê tá doido! Não temos muito dinheiro. Esse dinheiro que nós temos é pra pagar o hotel. Quando ganharmos bastante, aí sim, vamos sair para comprar roupa – disse Júlio.
Pedro, vendo a briga deles disse:
_ Não vamos brigar agora. Temos de ficar unidos.
_ Tudo bem. Vamos vestir o que temos – disse Samuel.
Eles separaram a roupa e começaram a ensaiar, escolhendo as músicas que iriam tocar.

Dando o horário, foram para o bar. Chegando lá se assustaram: tinha muitas pessoas. Subiram no palco e começaram a tocar. Todos adoraram. Amaram. O jeito que tocavam era encantador. Eles foram ficando mais animados, tocando cada vez melhor e, depois de um ano ficaram muito conhecidos na cidade.
Certa noite entrou no bar uma bela mulher. Loira, com olhos claros. Seu nome era Clara. Sentou perto do palco, escutando muito bem a música. Ficou esperando fechar o bar para conversar com os três músicos.
_ Oi, tudo bem? Meu nome é Clara e eu gostei muito de vocês. Tocam muito bem.
Pedro, como era mulherengo, foi logo o primeiro a falar:
_ Oi. Tudo bem, sim. Meu nome é Pedro e eles são Júlio e Samuel. Muito obrigado pelo elogio.
_ Bem, eu conheço um produtor de grande sucesso, e como gostei de suas músicas queria ajudar vocês a embarcar no mundo do sucesso, viajar, conhecer novos lugares. O que vocês acham?
Os três, felizes e surpresos, rapidamente falaram:
_ Aceitamos sua proposta. Quando viajamos? Que dia ?
_ Nós vamos para Madrid. É lá que o sucesso começa. Vamos viajar amanhã. Vão para casa, arrumem a mala. Vou buscar vocês na porta do hotel.

Eles muito alegres e nervosos foram para o hotel, Pedro começou a pular na cama, gritando:
_ Vamos ficar ricos!
Muito nervosos foram dormir. No dia seguinte Júlio levanta e grita:
_ Vamos, vamos! A Clara já está esperando!
Os dois levantaram correndo, se arrumaram e Pedro e Júlio pegaram as malas e estavam esperando o Samuel na porta. Ele estava demorando, nervosos gritaram:
_ Vamos estamos muito atrasados.
_ Péra! Antes eu preciso falar uma coisa pra vocês. Eu tô apaixonado pela Clara. Ela é linda, maravilhosa. Aqueles olhos azuis, aqueles cabelos que parecem ouro. O pior é que eu sou muito desastrado pra falar com mulheres. Minha mão começa a suar quando fico perto dela. Só relaxo quando pego meu violão e começo a tocar – falou Samuel.
Júlio e Pedro, parados, olhavam surpresos. Pedro disse:

_ Samuel, eu posso te ajudar. Vai ser fácil você conquistá-la.
_ Bom, tá maravilha essa conversa, mas temos de ir.

Chegaram no carro e havia mais duas garotas, Juliana e Agatha. Eram lindas. Juliana tinha cabelos longos, pretos, olhos verdes claros, e Agatha, cabelos castanhos ondulados, pele clarinha e olhos castanhos. Pedro e Júlio se apaixonaram – Pedro por Agatha e Júlio por Juliana. Tinham certeza de que tinham encontrado a mulher de sua vida. Subiram no carro e viajaram muito felizes. Anoitecendo Júlio teve uma ideia:
_ Vamos acampar, aí não precisamos pagar hotel.

Todos adoraram a ideia. Pararam em um campo, arrumaram as barracas e ficaram sentados à volta de uma fogueira. Juliana pediu que os músicos tocassem. Eles pegaram o violão e começaram a tocar. O jeito que eles tocavam encantava cada vez mais as três meninas. E cada vez mais elas foram se apaixonando. Pedro até teve a ideia de fazer uma serenata para elas! Tocaram até a hora de dormir.
Acordaram, tomaram café da manhã e prosseguiram sua viagem. Horas se passaram até que chegaram à cidade – lugar de muitos cantores, atores e atrizes famosos. Clara disse:
_ Bem, chegamos. Mas antes de eu apresentar vocês para o empresário, precisam comprar roupas novas.
Pedro muito nervoso disse:
_ Mas onde vamos nos acomodar? A que horas vamos ver o empresário?
_ Vamos agora! Não dá tempo para comprar roupas ou procurar um lugar – disse Agatha.
Chegando lá, muito nervosos, se apresentaram para o empresário. Começaram a cantar. Cantaram muito bem. O empresário adorou os três músicos:
_ Vocês são demais. Vou dar muito dinheiro pra vocês.

Os três músicos passaram mais dois anos longe de casa. Casaram-se, fizeram sucesso e ficaram conhecidos pelo mundo todo. Viajaram, ganharam muito dinheiro. Estavam feitos na vida: tinham dinheiro, estavam apaixonados. Só faltava uma coisa: a saudade enorme que sentiam de sua mãe.
Decidiram voltar para casa com as esposas. Viajaram de volta.
Chegando lá no Campinho, entraram na casa gritando:
_ MÃE!
A mãe correu para a sala e viu seus três garotos: lindos, famosos, casados. Foi uma choradeira. Apresentaram suas mulheres e contaram sobre o grande sonho realizado.

FIM




(Esta é a história de fantasia escrita pela Isabella, baseada na tela Os três músicos de Beatriz Milhazes. Esta é a quarta versão.
A ilustração da postagem é uma tela do pintor espanhol Pablo Picasso, e foi escolhida porque tem o mesmo nome da história. Deve ter sido também uma referência para Beatriz Milhazes...)



domingo, 28 de novembro de 2010

Os três músicos - de Camila

(Tela de Salvador Dalì)


Uma bela cidadela, em tempos atrás, com cara de Medievo, cercada de belas paisagens e seres obscuros e fantásticos. Cidadela essa de muita festa. Circos, tendas, cenas e muita música.
Havia três rapazes de dom fenomenal. Eram músicos habilidosos e amigos inseparáveis. Entre eles não havia ciume, desconfiança ou egoísmo. Seus nomes eram Alberto, Gilberto e Roberto. Alberto, o mais velho dos amigos tocava viola, Gilberto, o do meio, tocava maracas, e Roberto, o caçula, cantava. Os três músicos eram quase irmãos, possuíam uma amizade de anos, mesmo sendo jovens. Moravam juntos e tinham uma rotina encantadora. Acordavam às 10h, tocavam até que o sono os derrubasse. Tocavam na rua e ganhavam seu sustento de transeuntes e apreciadores. Eram queridos por todos e apreciados até pelo mais duro crítico. A arte deles só não superava a amizade dos três jovens músicos.

Roberto, caçula dos amigos apaixonou-se. A garota tinha a pele morena clara e cachos negros como a noite. Era cigana recém-chegada à cidade. Roberto a conheceu enquanto cantava com seus companheiros. Os ciganos pararam e observaram. Rosa Maria começou a dançar. Rebolava de modo instigador e envolvente. Até o mais duro coração amoleceria. Roberto soltou a mais bela nota e a sua voz e os gestos de Rosa Maria se misturavam como o dia e a noite se misturam no crepúsculo. Acabada a canção, Rosa partiu, deu tempo apenas de dizer: “Formamos uma bela dupla”.
Alberto e sua sensatez alertaram Roberto: “Ela é víbora traiçoeira! Já sentiu seu perfume? É o cheiro do pecado! Escute, querido amigo, estou te alertando!” Gilberto, como faladeiro que era, dizia: 'Seu nome é Rosa Maria, jovem e impura. Dizem que guarda em sua tenda uma mecha de cabelo de cada homem ou rapaz que ela já levou para o pecado! Fique longe dela!” Roberto, porém, não escutou. Passou a acordar mais cedo e ir cantar e dançar com ela na floresta. Gastava todas as suas forças e o povo já falava: sua voz sumia. Passaram a dizer que Rosa Maria era bruxa e que roubara a voz de Roberto para si. Seus colegas viam o prestígio de anos do trio ir embora. Resolveram fazer uma armadilha.

Numa noite, Roberto, disposto a se declarar de vez à sua amada, pôs-se a caminho do acampamento cigano. Nessa mesma noite Alberto e Gilberto levaram Rosa Maria para sua tenda e a embebedaram. Armaram, na tenda um clima sombrio, como de uma seita maligna. Roberto lá chegando deparou-se com uma festa. Seus instintos musicais fizeram surgir uma enorme vontade de cantar, mas ele tinha um objetivo: achar Rosa Maria e se declarar.
Passou tempo procurando-a e não a encontrou. Decidiu ir embora, mas pelo lado oposto, o lado das barracas. Estava escuro e uma barraca se destacava por seu vermelho intenso e pela luz que irradiava. Havia de fundo uma música desconhecida. Chegou mais perto e afiou os ouvidos. Mesmo assim não identificava a música. Chegou mais perto e sentiu cheiro de frutas. Chegou mais perto ainda, ficou mais perto ainda e reconheceu os cachos de Rosa Maria.

Roberto chamou a amada, mas ela parecia não ouvir. Ele resolveu entrar. Quando abriu a tenda e deu os primeiros passos, ele se esqueceu da música, dos cheiros, do seu objetivo. Rosa, embebedada pelos outros músicos, não entendia o que se passava. Mas viu pelos olhos de Roberto que havia caído em uma cilada.
Roberto berrava: “Bruxa! Morte à víbora e sedutora bruxa! Cobra, cruel e vil, dama adepta da bruxaria! É verdade o que dizem sobre você, tirana!” Agora Roberto chorava e murmurava: “Acreditei em tua dança, em teu sorriso, mas era verdade o que diziam, tu és bruxa de coração amaldiçoado!”
Rosa não entendia e, sem sua total lucidez, não podia se defender. Não entendia as acusações. Roberto correu e ela ficou tentando compreender, mas a alegria dos boêmios e o terror dos que creem, a bebida, a impedia. Caiu num sono profundo, um desmaio, um momento de fuga.
Enquanto isso, Roberto contava aos amigos o que vira. O que Roberto não desconfiava é que os amigos já sabiam, aliás, que tudo havia saído da cabeça deles. Os três combinaram então que, pela manhã, denunciariam Rosa Maria.

Na manhã seguinte Alberto, Gilberto e Roberto foram às autoridades e acusaram Rosa Maria de bruxaria. Assim, então, a cidade toda foi interrogada e todos confirmavam: ela era bruxa. Falavam de sua dança, seus cabelos, seu perfume.
Rosa foi levada e, por unanimidade, foi condenada à forca. Os ciganos se foram, com medo de novas acusações. Os amigos, exceto Roberto, que se compadecia da amada, comemoravam junto com a cidade.
O tempo passou e chegou o dia do enforcamento. As pessoas pegavam seus lugares, inclusive os três músicos. Foi lida a acusação de bruxaria. Rosa Maria, já lúcida, se defendia, afirmando ter sido sabotada por dois jovens mascarados. Apenas uma pessoa acreditou: Roberto. Ele correu até o palanque onde Rosa estava com a corda no pescoço e pediu por compaixão, afirmando acreditar nela. Rosa Maria chorava e a cidade comentava: “Pobre garoto! Enfeitiçado pela cruel víbora!”
Roberto foi segurado e Rosa, morta. O desespero tomava conta do jovem. Ele se soltou e correu para a floresta onde outrora cantava e dançava com sua amada. Arrancou um galho de árvore e cravou no próprio peito, desejando seguir sua Rosa. Na cidade o clima fúnebre dominava e o corpo de Roberto nunca foi encontrado.
Os músicos, agora uma dupla, lamentavam e sofriam por sua culpa. Tocavam músicas ocas, sem voz, acompanhados apenas por um vento leve, que parecia segui-los, como uma melodiosa voz.





(Esta é a história de fantasia escrita pela Camila, baseada na tela Os três músicos de Beatriz Milhazes. Esta é a segunda versão.
A ilustração da postagem remete a outro artista também capaz de inspirar textos dessa natureza, Salvador Dalì)

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Os três músicos - de Lucas R. Rey

(Tela de Marc Chagall)



Em uma cidadezinha rodeada de casinhas antigas, com pessoas humildes e alegres, e cercada unicamente por uma mística floresta, moravam três garotos. Eram três amigos: Roco, Riobaldo e Renê. Tinham em suas vidas algo que os unia: o amor eterno pela arte musical. Roco tocava banjo, Riobaldo, bandolim e Renê, violão. Não gostavam de esconder seu talento. Toda tarde se reuniam e tocavam na praça da cidade. Nunca se interessaram em ganhar dinheiro, tudo o que produziam era feito com amor. Era lindo de se ver e de se ouvir. Quando tocavam algo mágico acontecia... notas musicais multicoloridas saiam de seus instrumentos. Elas dançavam e faziam do céu o seu salão nobre. Dançavam tão alto que tocavam as estrelas.

Longe dali, em seu castelo escuro, se escondia um malvado feiticeiro. Ele odiava escutar a música dos três amigos. Era invejoso, pois tinha os dedos tortos e não conseguia tocar nada. Um certo dia, se irritou e decidiu acabar com a música dos jovens. Enquanto eles se apresentavam, o feiticeiro jogou um terrível feitiço em seus instrumentos:
_ De agora em diante a música de vocês trará tristeza e desgosto para todos!

Renê, Roco e Riobaldo não sabiam mais o que fazer, pois a única coisa que os fazia viver não traria mais a alegria de sempre.
_ E agora, Renê, o que faremos? - disse Roco.
_ Eu não sei, meu amigo... - disse Renê desapontado.
_ Só nos resta ir embora da cidade e nunca mais voltar – disse Riobaldo.

Sem escolha, os três músicos fugiram para a floresta. Ela era escura e misteriosa. Quando a noite chegou, os três já estavam cansados de tanto andar sem rumo. Avistaram um pequeno acampamento, com uma fogueira e pessoas dançando e cantando.
_ Olhem, meus amigos – disse Renê. Aquele povo se diverte com sua música.
_ Vamos até lá! - exclamou Riobaldo.
_ É, vamos! - concordaram os amigos.

Chegaram devagar e ficaram observando. Um dos homens que ali estavam notou a curiosidade dos três músicos.
_ Ei, vocês três! Não fiquem acanhados. Participem da nossa festa.
_ Podemos? - perguntaram os três.
_ É claro! Vamos, vou apresentar vocês ao meu grupo.
E lá foram os três músicos ao encontro do homem e seu grupo dançante. Sentaram à frente da fogueira.

_ Que tipo de grupo são vocês? - perguntou Roco.
O homem sorriu e disse:
_ Somos ciganos! Passamos a vida cantando e dançando e lendo sobre o futuro das pessoas.
_ Então por que não lê sobre o nosso futuro? - perguntou Renê.
_ Mas é claro! - E pegando a mão de Renê analisou. - você possui um tesouro. Não são joias, mas é brilhante. Lute por esse tesouro. Em sua maldição irá encontrar a libertação. Terá de infringir a regra que o seu mal lhe impôs.

O cigano logo notou os instrumentos musicais dos três amigos.

_ Por que vocês não tocam junto conosco?
_ Não podemos... - disse Renê desapontado.
_ Ora, mas por que não? - perguntou o cigano
_ Fomos amaldiçoados por um feiticeiro. Agora, cada vez que tocarmos só traremos coisas tristes para as pessoas.
Despediram-se do cigano e seguiram pela floresta.

_ Sim! Agora entendo! - disse Renê alegre.
_ Entende o que, meu amigo? - perguntou Roco.
_ O cigano da floresta está certo!
_ O que? Está louco? - perguntou Riobaldo, confuso.
_ Não, meus amigos. Não prestaram atenção no que ele disse quando leu minha mão? 'Em sua maldição encontrará libertação.” Roco, Baldo, temos de voltar para a cidade e tocar.
_ Ah, meu Deus! Agora você endoideceu de vez, Reenê – disse Riobaldo, indignado. Será que não percebe? Estamos amaldiçoados, não há como reverter esse feitiço.
_ É verdade, Renê, o Baldo tem razão – concordou Roco.
_ Temos de acreditar em nosso poder, meus irmãos! Temos de lutar! - exclamou Renê.
_ Acordar, Renê! Acabou! Não somos e nunca mais seremos os três músicos mágico – disse Roco.
Nesse instante o cigano da floresta surgiu entre as arvores e disse:

_ Pois vou lhes contar uma coisa, meus jovens. A música só trará o mal se desejarmos que ela traga o mal. Quando uma melodia sai de nosso alma, deixamos o coração libertar nossos mais belos sentimentos.
As palavras do cigano encorajaram os três músicos. Então, naquela noite voltaram para a cidade e começaram a tocar, e viram como as cordas dos instrumentos brilhavam como ouro e as lindas notas coloridas voltaram com ainda mais cor e luz, animando o povo como sempre animara em todas as noites.
O feiticeiro ficou com tanta raiva que acabou explodindo. Virou poeira e foi levado para sempre pelos ventos.




(Esta é a história de fantasia escrita pelo Lucas R. Rey, baseada na tela Os três músicos de Beatriz Milhazes. Esta é a segunda versão.
 A ilustração da postagem remete a outro artista também capaz de inspirar textos dessa natureza)

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Espelhos - de Paulo


Mandala de M.C. Escher



Meus olhos estão fechados, mas se estou conseguindo pensar claramente, então devo estar acordada. Ou estou sonhando?
Pois bem, irei abrir meus olhos. Minhas pálpebras estão muito pesadas, mas consegui abri-los.
Ainda estava escuro, mas havia uma luz que vinha lá de fora. Então estava numa cabana. Me levantei com cuidado porque meu corpo estava pesado e dormente. Caminhei em direção à luz.

Quando saí da cabana o dia estava nublado. Olhei ao redor e só havia mais cabanas. Saí correndo para nenhum lugar quando começou a chover. As gotas de chuva não me molhavam, não deixavam minhas roupas molhadas, mas deixava minha saia mais leve para andar. Mas algo em mim ficava tocado pela chuva.
Parei de correr do nada e olhei fundo para uma cabana. Era a mais escura de todas, mas de tudo ali era a única que tinha uma cor a mais: uma melancia estragada na porta! Aquilo chamou minha atenção e por isso entrei.
Quando dei o primeiro passo para dentro da cabana, uma brisa forte bate em meu corpo como se tivesse feito eu mudar de local sem tirar os pês do chão. Saí correndo para o fim da cabana, mas o chão do fim da cabana era inclinado. Caí derrapando até meter a cara num espelho. Aquele espelho era o mais brilhante que já vi. Naquele lugar a luz que saía dele era linda, uma luz azul.

Me levantei. Reparei que estava numa sala de espelhos. No teto havia um balão gigante. Numa pequena dança que fazia com os meus reflexos quando numa brisa todos os espelhos racharam em milhares de pedaços. Me debrucei com o coração angustiado e comecei a chorar por muito tempo quando o balão do teto estourou em vários outros balões que, com a luz do espelho brilhante e a rachadura dos outros espelhos, fizeram os balões se tornarem como se fosse outro mundo, como se eu estivesse dentro de um caleidoscópio.
Mas apenas o espelho brilhante que já estava quase se apagando fez um brilho vermelho. Tudo ali ficou vermelho, um vermelho profundo. Quando me deparei com uma mulher linda com roupas chamativas. E ameaçadora de tanto que a roupa dela era colorida e chamativa.
_ Baiana, cigana, gueixa, capoeirista – sussurrei.

Quando vi que ela era apenas o meu reflexo. Vi que eu vestia aquela roupa. Aquele vestido chamativo e colorido era meu.
Continuei dançando quando tudo se apagou. Meu vestido desbotou, caindo no chão a cor vermelha que havia nele... eu... eu estava sangrando? - me perguntei.
No mesmo instante que o sangue sumiu, meu vestido se tornara azul, da mesma cor do brilho do espelho, e pequenos vaga-lumes saíram dele, me levando para a escada de flores lindas.
_ Sol – murmurei bem baixinho. Subi a escada correndo quando me dou de cara com uma plantação de morangos, e no fundo havia uma macieira, que corri dançando até ela.
Quando deparei com um anel vermelho em meu dedo. Quando cheguei à macieira vi que havia uma mala. Abri e tinha três pelúcias: um coelho, o Fófis, que tinha um pandeiro; o leão, o Luca, que tinha uma guitarra, e a tartaruga, Roan, que tinha uma maraca. Lembrei que brincava com elas quando tinha dez anos, que eles eram os três músicos. Sorri.

Me deitei na macieira com os meus bichinhos, olhando o céu e a brisa no meu rosto.
Não, meus olhos, meus olhos estão fechando. Não quero ir embora – fiquei repetindo isso várias vezes quando dormi,.
_ Juliana Raquel, você só tem mais quinze minutos, senão vou subir aí com o chinelo!
_ Eu tô indo, mãe.
Acordei no meu quarto com uma chave na minha mão.
_ Que chave é essa? - me perguntei, quando um vaga-lume sai da minha camisola e sorri com um aspecto de felicidade. Sussurrei:
_ Já entendi de onde é a chave. Tenho de devolver outra noite.


(Esta é a história de fantasia escrita por Paulo, baseada na tela Os três músicos de Beatriz Milhazes. O autor não achou necessário revisar ou reescrever.
A ilustração da postagem remete a outro artista também capaz de inspirar textos dessa natureza)


segunda-feira, 22 de novembro de 2010

"Os três músicos" - obra de Beatriz Milhazes


(Beatriz Milhazes - Os três músicos, 1998 - acrílica sobre tela, 220 x 190 cm)

No dia 27 de outubro conhecemos um pouco da obra de Beatriz Milhazes e analisamos, com a visita da pedagoga da FUNSAI, Tutu, a obra Os três músicos
Abaixo alguns itens da análise realizada:

Cheiro de chocolate, de perfume forte, intenso.
Cheiro de rosas, de frutas (morango, maçã, melancia), de frutas silvestres

Gosto de macarrão com muito molho, de água salgada da praia, gosto de bolo.

Intensidade.
Lembra um pique nique, uma gueixa (por causa do quimono), coisas antigas (e madames antigas, com sombrinha).
Lembra uma cigana (dessas que leem mãos, que moram em tendas, carroças, que vagam pelo mundo, dançam e cantam) - daí lembrar a música Gipsy, da Shakira.

Imagens que remetem a bijuterias, caleidoscópio, pirulito de criança. Alegorias de escola de samba, carnaval. Guarda-chuva colorido do frevo, lenços coloridos, música alegre.

Que instrumentos esses supostos músicos tocam? Maracas, banjo, bateria. Podem ser músicos de serenata.

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Depois da análise, ficamos sabendo da proposta: escrever uma história de fantasia - daquelas que se passam em outros territórios, os da imaginação - com base nos dados levantados e no que mais surgir.
Primeiro imaginaremos o território e as personagens, depois faremos um plano para, só em seguida, escrever. Não há limite de tamanho para o texto.
Faremos uma primeira versão que, aprimorada, virá para o blog.
Não percam!


sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Beatriz Milhazes - Fantasia


Depois das cores de Kandinsky, das linhas de Klee, do geometrismo de Mondrian e seu Neoplasticismo, chegou a vez de uma artista brasileira que reúne em sua obra um pouco de tudo isso. Trata-se da carioca Beatriz Milhazes.


(Beatriz Milhazes Serpentina, 2003, gravura edição 40, 129,5 x 129,5 cm)

Nascida em 1960, Beatriz frequentou cursos de artes no Brasil e no exterior e atualmente trabalha como pintora, ilustradora, cenógrafa e professora.


(Beatriz Milhazes, Cenografia do espetáculo Tempo de verão, 2004, Marcia Milhazes Cia de Dança)

A maior parte de seus trabalhos é em acrílica sobre tela, num processo lento, que pode durar meses. Tal processo, muitas vezes, pode se assemelhar ao da escrita: esboços, camadas diversas, sobreposições, ajustes constantes até o acabamento. 

(Beatriz Milhazes - O sonho de José, 2003/2004,  250 x 250 cm)

Elaine Perli Bombicini  comenta a respeito da artista no blog papelferepedra.blogspot.com:

"O que gosto em Beatriz é a conexão com os anos 70 (quando comecei a me interessar por arte, embora só a tenha conhecido muito depois), algo dos encaixes perfeitos que a alma barroca possui e algo de um efeito que vai de encontro a arte deco. Essa multifaceta que ela apresenta, amplia demais as possibilidades de análise e aprofundamento em sua obra. Estar diante de um quadro dela é viajar, nos mínimos e nos máximos detalhes, a profusão de cores e em alguns trabalhos a transparencia, nos lembram vitrais.
Possui obras de grandes dimensões, nos transmitindo a sensação de ter tido muito trabalho. Assim como ilustrações de livros que são pequenas obras de arte (mil e uma noites, se não me engano).
Estar em contato com sua obra é sentir uma certa alegria espontanea. Gera movimento!"
A  escolha de Beatriz Milhazes como nossa próxima referência vem atender à proposta de criação de um texto de fantasia, que poderá ser conferido nas próximas postagens.


terça-feira, 16 de novembro de 2010

Cadáver maquiado


Kandinsky tem gosto de balas jujuba 
(versão 2- por Juliana e Isabella)

“Amar significa jogar sua vida fora, mas para o artista significa jogar o tempo de vida fora para amar”.

Kandinsky era um artista, um artista que chocou;
Começou o abstrato e com isso inovou;
Gostava de pintar as paisagens de Moscou.

Bem maluco era ele, pintava tudo colorido, divertido e “bizarro”. Até misturas de opostos ele fazia, o frio da chuva com o quente do Sol, criando um arco-íris de intensas e bonitas cores. Era assim mesmo, como criança, que adora jujubas, mas se comer demais enjoa. Então para não exagerar, tranquilo também era, com seu lado calmo de pintar. Pintava o cheiro das flores silvestres com todas as fragrâncias que tinha direito. Fez-se lúdico, usando formas e cores primárias.
Acabando a brincadeira, conto um segredo: Kandinsky relacionava cores com sons, parecendo até o carnaval, a batida da bateria com a criativa alegoria.
Artista é isso mesmo, contradições, reflexões e expressão. Expressão pelo amor à arte e à vida. 


(Obra de Wassily Kandinsky)


(Em nossa postagem anterior mostramos o resultado do poema escrito na técnica "cadáver esquisito". Cada verso foi criado por um participante do ateliê.
Em seguida, Juliana e Isabella ficaram encarregadas de reescrever o texto - ou "maquiar o cadáver". É esta versão resvita que apresentamos na presente postagem)

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Nosso primeiro cadáver esquisito


KANDINSKY TEM GOSTO DE BALA JUJUBA





Kandinsky tem gosto de bala jujuba
É um cara bem maluco
Kandinsky também é muito calmo
Amar significa jogar sua vida fora, mas para o artista significa jogar o tempo de vida fora para amar
Kandinsky relacionava cores com sons
A infância tem gosto doce, mas quando é exagerada pode enjoar
Kandinsky é lúdico
Kandinsky tem cheiro de flores silvestres
O Kandinsky tem um clima frio misturado com calor
Ele pintava tudo colorido, divertido e bizarro
A maioria de seus quadros são de formas e cores primárias
Kandinsky tem ritmo de carnaval



(Kandinsky - Quadrados com círculos concêntricos)

Cadáver esquisito é um jogo criativo criado por volta de 1925 pelos surrealistas (artistas vinculados ao Movimento do Surrealismo) e que consiste em escrever uma primeira frase numa folha e dobrá-la para que o outro não leia. O próximo participante escreve outra frase (ou verso) e esconde também seu texto, e assim por diante, até o último. Ao final, desdobra-se a folha e se lê o resultado geral.
Dessa forma tem-se mais de um autor e subverte-se a lógica criativa.
Pode-se também fazer cadáveres esquisitos de desenhos.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

A pintura-poema que nos inspirou o diálogo com Mondrian





Em 1928 foi realizada em Paris uma mostra de pinturas-poemas. O poeta Michel Seuphor comentou com Mondrian, que imediatamente planejou um quadro que pudesse dialogar com um texto do amigo.
Assim que o poema ficou pronto, Mondrian pintou as letras na tela, imitando máquina de escrever, numa disposição em três blocos. É o que pode ser visto na imagem acima. Clique sobre a imagem para ter uma visão melhor da obra.



segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Diálogos: o nosso texto conversa com a tela de Mondrian


(Piet Mondrian - Composição em azul, amarelo e vermelho)

Nossa análise dessa obra de Mondrian, com os elementos que darão estímulo para nosso diálogo poético com ela:

Modernidade - por causa das cores e formas;
A parte do meio passa tranquilidade e as bordas agitaçao, por causa das cores;
Sofisticação, elegância
Sons de musica clássica, mas também de percussão; música eletrônica;

Originalidade, pois foge dos padrões;
Sintético, dinâmico;
Não é "brega", já que não há exageros;

Racional;
Matemática, matemática plástica;

Cheiro de erva-doce; cheiro de chuva;
Cheiro de caderno novo
Cheiro de modernidade: carro novo, tecnologias

Vistas aéreas, quarteirões.

domingo, 7 de novembro de 2010

Piet Mondrian




Este é retrato de Piet Mondrian quando jovem. O pintor holandês nasceu em 1872 e, como seus irmãos, demonstrou talento para o desenho logo cedo.
A família, preocupada com a possibilidade de seu filho tornar-se um artista (isso era visto como um mau caminho naqueles tempos), ficou mais tranquila quando ele prometeu que seria um professor.



Porém, logo ficou insatisfeito com a carreira de professor, pois percebia que a pintura era seu verdadeiro caminho. Enfrentou a vontade do pai e seguiu, finalmente, seu talento, indo estudar fora e viajando para vários lugares a fim de conhecer paisagens e registrá-las em seus quadros.
Mondrian teve sua fase figurativa, depois influenciada pelo Impressionismo, até alcançar o não-figurativo, onde se fixou.



Dentre os locais que frequentou estava a Paris do início do século, onde Mondrian entrou em contato com os cubistas e deles recebeu influência decisiva para o movimento que viria a criar: o Neoplasticismo. 



Alguns dos princípios desse movimento são: presença de ângulos retos, utilização das cores primárias, do branco, do preto e do cinza apenas, criando movimento em suas disposições assimétricas.
Suas obras dessa fase foram tão marcantes que até hoje influenciam arquitetura, design, moda, etc.


















Ao mudar-se para os Estados Unidos e sob a influência do jazz, de que gostava muito, Mondrian acabou adaptando as regras que fixara na criação de novas telas.



Inspirados pela sua fase Neoplástica, publicaremos nas próximas postagens intervenções poéticas em uma de suas obras.