terça-feira, 25 de outubro de 2011

Texto da Camila




Sentia frio a jovem e futura mãe. Baixava os olhos e fitava sua barriga, com a pele esticada contendo em si uma vida.
Sentiu a primeira dor, o primeiro anúncio.
Naquele casebre simples onde vivia sozinha a grávida já viúva, a parteira tirava a pequena vida de dentro dela, levando à luz uma garotinha de corpo moreno e cabelos negros, junto com o estrondo do trovão.
A jovem amou sua filha intensamente. Segurou-a em seu colo materno e desfaleceu, deixando a garotinha órfã, sem nada nem ninguém.
A parteira entregou a garota a uma família que vivia nas montanhas.

A pequena garota cresceu traumatizada pelo trovão que levou sua mãe. Brincava e ria, mas temia a solidão. Corria nas montanhas e voltava para casa, sentindo o cheiro vindo da cozinha. Aquela mulher não era sua, não era seu sangue.
Na adolescência sentia ímpetos de voar para longe, de sair em busca de tudo. A amargura de ficar, não ir, transformou-a em adulta solitária, sem memórias, mas com tramas. Se vê no furacão, bem no olho, no abismo, com frieza seguiu em frente. Enfrentou. Se deu conta de que era completa, quando já lhe faltavam as energias.

Idosa, entendeu que as correntes foram forjadas de nuvens. Não se arrependeu. Tomou um banho, se soltou do passado. Se deitou com cabelos molhados e esperou o trovão chegar. Fechou os olhos. Fechou os olhos.



(Esta é a primeira versão do texto da Camila
Proposta: cada participante deveria observar o próprio autorretrato realizado na atividade anterior - ver postagens. A  partir dessa observação, faria uma espécie de descrição da figura retratada em forma de texto. Cada um poderia usar a forma e o gênero que quisesse, o importante era olhar a si mesmo retratado como se fosse outro.
Depois de lido e analisado pelo grupo, o texto terá, pelo menos, mais uma versão)

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