domingo, 11 de dezembro de 2011

Trecho de diário - Tatiane






Tão difícil não poder contar com ninguém, tô sem rumo, sozinho. Saí de casa pra esfriar a cabeça. Queria ser alguém livre, solto. Às vezes dá vontade de ser um anjo e decidir o rumo que quero seguir, assim ninguém interferia. É tão mais decisivo, mais ação do que pensamento, difícil é ser forte e agir como tem que agir. Minha mãe não entende que eu quero viver minha vida, andar com meus amigos sem me desfazer de nenhum deles, seguir meu caminho. Ela sempre atrapalha, ela quer viver a minha vida, será que já não basta a dela? Ela me sufoca, não aguento mais ter que dar satisfações do que quero ou não quero. Sou um adolescente, tenho meus gostos e minhas vontades, mas ela acha que tenho que viver igual ela, fazer o que não gosto só pra ela se contentar. Gosto de sair com meus amigos, fazer o que todo adolescente faz, mas para ela isso é coisa de outro mundo. Ela quer dar os meus passos e mudar a direção do meu caminho.

Hoje mesmo eu tava trocando ideia com os meus amigos sobre a copa do mundo da África do Sul. Então no meio do assunto a gente lembrou que vai ter aqui no Brasil em 2014. Aí comentamos que queríamos fazer turismo. Quando falei com minha mãe faltou ela me xingar. Falou que eu tava doido, que isso não é vida de gente, que eu tinha que ser médico ou empresário e que tinha que parar de andar com esses meninos que estavam bagunçando a minha mente.

Aí eu estourei e falei para ela nem tentar me separar deles, e disse pra ela parar de controlar a minha vida. Ela parece uma maçã: é linda por fora, mas por dentro é fria e sem coração. Então eu saí de casa sem falar nada e decidi dar uma volta pra esfriar a cabeça. Assim como a sopa precisa de legume pra ficar gostosa, eu preciso de amigos para ser feliz.


(Este trecho de diário foi criado pela Tatiane, a partir da apreciação da tela do artista norte-americano Jean-Michel Basquiat, que ilustra a postagem anterior.)

2 comentários:

  1. Toda escrita aguça nossos pensamentos, e quando são feitos em primeira pessoa, assim como um depoimento, isso aguça ainda mais nossa imaginação. Toda escrita aguça.
    Siga escrevendo Tatiane!

    Abraços porteños, Elaine

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  2. Gracias, Elaine. Seu olhar e sua generosidade valorizam o nosso blog!

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